"A verdadeira riqueza de um povo está na sua gramática."
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Inspirado pelo parto feliz de dois bebés blogues (It's Bliss | A MaFia Feminina), de duas assíduas passageiras do Autocarro, decidi forçar o regresso da escrita a este espaço. Não tinha nada de mais sobre que escrever de momento, mas tinha algumas ideias na gaveta, esperando o vislumbre do teclado. Atendendo ao motivo que me levou a querer antecipar o novo post, achei que um bom tema seria justamente... a escrita. E, sim, uma das ideias na gaveta tinha a ver com este tema.
Comecei com uma citação de Fernando Pessoa. Epá, que o homem era louco já todos sabemos de ginjeira. Mas afirmar que a riqueza de um povo está na sua gramática... Desde quando é que botar faladura nos enriquece? Empobrece os pulmões e, em muitos casos, a reputação social do emissor. Creio, aliás, que a segunda parte é o que me está a acontecer neste momento. Convenhamos também que esta é uma citação que revela bem o pessimismo de Pessoa em relação ao seu país. Certamente foi escrita na sua fase decadentista, em que só falava de coisas tristes e a alma lhe doía (ainda mais do que o normal) constantemente. De facto, dizer que a riqueza de um povo está na sua gramática é passar um atestado de pobreza a Portugal. Vá lá, Fernando... Eu sei que passaste a infãncia na África do Sul, o que te fez perceber desde menino os atrasos de Portugal, mas também... não somos assim tão maus. Não era preciso fazeres passar a imagem de que somos pobres.
Reparo, ainda, que esta definição de Pessoa entra um bocado (só um bocado) em conflito com as definições do "Pai da Economia" Adam Smith, na sua obra-prima An Enquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations (Inquérito sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações). Há quem prefira, por motivos que me são perfeitamente ocultos, chamar-lhe apenas A Riqueza das Nações. Mas reparo que há, de facto, divergências entre Pessoa e Smith na definição de riqueza - divergências aos meus olhos inexplicáveis. Ok, é certo que, em termos actuais, um seria o que hoje se pode chamar um emo-hippy-nerd (que combinação genial) e o outro um queque, apesar das suas mui viris origens de pastor. Não sei se terá algo a ver com isso. Mas continuo a achar estranho. Desde quando é que um economista e um poeta/um artista têm visões diferentes do mundo? O Manuel Alegre até ajudou o Cavaco Silva a ganhar as últimas presidenciais logo à 1ª volta, ao dividir o PS, e tudo...
Mas o efeito que a citação de Pessoa teve em mim foi o de me fazer reflectir sobre a escrita e a língua. E concluí que Fernando Pessoa, se ambicionava defender e sensibilizar para a importância da correcção gramatical e da erudição linguística como parece querer fazer na dita citação, disse uma parvoíce de todo o tamanho. Deixa lá, Nando, acontece a qualquer génio. Não é preciso escreveres dez poemas tristes sobre isso. Vá lá, não comeces com essa cantiga do choro perfurante da alma. Vamos afogar essa alma mas é com umas bejolas ali n' O Martinho da Arcada.
Afinal o que é, então, "língua"? Além de "órgão móvel da cavidade bucal" (deixemos de parte definições de cientista), "língua" é um "sistema de comunicação comum a uma comunidade linguística". Eu deturparia um pouco esta definição e diria que é uma maneira de as pessoas se entenderem entre si. Vá, talvez esta não seja a definição, mas sim a finalidade da língua: o entendimento mútuo.
Daí que Pessoa tenha dito uma parvoíce de grandes proporções. Mas quem era ele para dizer aquilo, se ninguém percebia pitada do que ele queria dizer? Ou, usando uma expressão - lá está - mais acessível: ninguém percebia um corno das papaias que ele para ali mandava naquelas rabichices, os poemas ou lá ó raio que era.
De facto, Pessoa era um sem-abrigo em termos linguísticos, de acordo com a sua própria teoria da riqueza (quão altruísta da parte dele). O que se pode chamar de Belmiro de Azevedo é o Hi5 e sítios afins onde toda a gente se entende: isso sim, é uma língua. Rendo-me à superioridade da linguagem Hi5. Confesso que já ambicionei vezes múltiplas converter-me a tal dialecto, mas tenho de reconhecer: sou um incapacitado. O melhor que já consegui aprender foi duas palavras homónimas, das tais que se lêem e escrevem da mesma maneira, mas têm significados diferentes. Passo a partilhar a minha aprendizagem:
a) "tou c 1a comixão ka num xitio k eu ka xei k n m aguentu"
b) "ja dei a minha xugestão a comixão d praxes"
Reparem na palavra "comixão", aplicada na frase a) na sua dimensão semântica de "sensação incómoda", "prurido" e na frase b) como "aglomerado de pessoas com funções de decisão, gestão ou estudo". Até pareço estar no bom caminho, mas a verdade é que as minhas capacidades não passam disto. Serei um pobre linguístico para sempre.
Repare-se ainda que agora existem as "Moedas Hi5", com as quais podemos adquirir artigos tão fenomenais como um "saco de cocó em chamas" ou um "furão com balões" (o primeiro existe mesmo, o segundo inventei-o, mas, se não existe, vai existir em breve). Uma clara tentativa de, na linha da citação de Pessoa, introduzir moeda/riqueza num contexto linguístico.
Posto isto, exorto todos a dar ao português "diferentemente" falado e escrito (há quem diga mal falado e escrito... Preconceituosos, digo eu!) e à linguagem Hi5 (o caso mais... especial do português diferentemente falado e escrito) o valor que merecem. Porque essas sim, são línguas a sério, inteligíveis pela larga percentagem das pessoas. Por algum motivo o Hi5 tem milhões de utilizadores e o Autocarro menos de meia dúzia de crentes... Já pensaram nisso? Porque outro motivo haveria este blogue de ser menos popular do que o Hi5?...
Espero ainda que um dia se leia na escola os comentários trocados entre o Xefe Djjioguinhuu e a JúLiÁnNáÁZóúÚúNaÁh no Hi5 em vez dos poemas de Fernando Pessoa. Verdadeiros artífices da linguagem e da gramática.
Que as ilustrações sejam os cartazes a informar que "À caracóis" ou que "Vêndesse melões". Que os partidos políticos sejam "krews". Bem, isso de certa maneira já são, visto que "krew" é um termo associado a um grupo de pessoas que, por vezes, executa actividades de legalidade duvidosa.
Bjx ffx a tdx. ***
Comecei com uma citação de Fernando Pessoa. Epá, que o homem era louco já todos sabemos de ginjeira. Mas afirmar que a riqueza de um povo está na sua gramática... Desde quando é que botar faladura nos enriquece? Empobrece os pulmões e, em muitos casos, a reputação social do emissor. Creio, aliás, que a segunda parte é o que me está a acontecer neste momento. Convenhamos também que esta é uma citação que revela bem o pessimismo de Pessoa em relação ao seu país. Certamente foi escrita na sua fase decadentista, em que só falava de coisas tristes e a alma lhe doía (ainda mais do que o normal) constantemente. De facto, dizer que a riqueza de um povo está na sua gramática é passar um atestado de pobreza a Portugal. Vá lá, Fernando... Eu sei que passaste a infãncia na África do Sul, o que te fez perceber desde menino os atrasos de Portugal, mas também... não somos assim tão maus. Não era preciso fazeres passar a imagem de que somos pobres.
Reparo, ainda, que esta definição de Pessoa entra um bocado (só um bocado) em conflito com as definições do "Pai da Economia" Adam Smith, na sua obra-prima An Enquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations (Inquérito sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações). Há quem prefira, por motivos que me são perfeitamente ocultos, chamar-lhe apenas A Riqueza das Nações. Mas reparo que há, de facto, divergências entre Pessoa e Smith na definição de riqueza - divergências aos meus olhos inexplicáveis. Ok, é certo que, em termos actuais, um seria o que hoje se pode chamar um emo-hippy-nerd (que combinação genial) e o outro um queque, apesar das suas mui viris origens de pastor. Não sei se terá algo a ver com isso. Mas continuo a achar estranho. Desde quando é que um economista e um poeta/um artista têm visões diferentes do mundo? O Manuel Alegre até ajudou o Cavaco Silva a ganhar as últimas presidenciais logo à 1ª volta, ao dividir o PS, e tudo...
Mas o efeito que a citação de Pessoa teve em mim foi o de me fazer reflectir sobre a escrita e a língua. E concluí que Fernando Pessoa, se ambicionava defender e sensibilizar para a importância da correcção gramatical e da erudição linguística como parece querer fazer na dita citação, disse uma parvoíce de todo o tamanho. Deixa lá, Nando, acontece a qualquer génio. Não é preciso escreveres dez poemas tristes sobre isso. Vá lá, não comeces com essa cantiga do choro perfurante da alma. Vamos afogar essa alma mas é com umas bejolas ali n' O Martinho da Arcada.
Afinal o que é, então, "língua"? Além de "órgão móvel da cavidade bucal" (deixemos de parte definições de cientista), "língua" é um "sistema de comunicação comum a uma comunidade linguística". Eu deturparia um pouco esta definição e diria que é uma maneira de as pessoas se entenderem entre si. Vá, talvez esta não seja a definição, mas sim a finalidade da língua: o entendimento mútuo.
Daí que Pessoa tenha dito uma parvoíce de grandes proporções. Mas quem era ele para dizer aquilo, se ninguém percebia pitada do que ele queria dizer? Ou, usando uma expressão - lá está - mais acessível: ninguém percebia um corno das papaias que ele para ali mandava naquelas rabichices, os poemas ou lá ó raio que era.
De facto, Pessoa era um sem-abrigo em termos linguísticos, de acordo com a sua própria teoria da riqueza (quão altruísta da parte dele). O que se pode chamar de Belmiro de Azevedo é o Hi5 e sítios afins onde toda a gente se entende: isso sim, é uma língua. Rendo-me à superioridade da linguagem Hi5. Confesso que já ambicionei vezes múltiplas converter-me a tal dialecto, mas tenho de reconhecer: sou um incapacitado. O melhor que já consegui aprender foi duas palavras homónimas, das tais que se lêem e escrevem da mesma maneira, mas têm significados diferentes. Passo a partilhar a minha aprendizagem:
a) "tou c 1a comixão ka num xitio k eu ka xei k n m aguentu"
b) "ja dei a minha xugestão a comixão d praxes"
Reparem na palavra "comixão", aplicada na frase a) na sua dimensão semântica de "sensação incómoda", "prurido" e na frase b) como "aglomerado de pessoas com funções de decisão, gestão ou estudo". Até pareço estar no bom caminho, mas a verdade é que as minhas capacidades não passam disto. Serei um pobre linguístico para sempre.
Repare-se ainda que agora existem as "Moedas Hi5", com as quais podemos adquirir artigos tão fenomenais como um "saco de cocó em chamas" ou um "furão com balões" (o primeiro existe mesmo, o segundo inventei-o, mas, se não existe, vai existir em breve). Uma clara tentativa de, na linha da citação de Pessoa, introduzir moeda/riqueza num contexto linguístico.
Posto isto, exorto todos a dar ao português "diferentemente" falado e escrito (há quem diga mal falado e escrito... Preconceituosos, digo eu!) e à linguagem Hi5 (o caso mais... especial do português diferentemente falado e escrito) o valor que merecem. Porque essas sim, são línguas a sério, inteligíveis pela larga percentagem das pessoas. Por algum motivo o Hi5 tem milhões de utilizadores e o Autocarro menos de meia dúzia de crentes... Já pensaram nisso? Porque outro motivo haveria este blogue de ser menos popular do que o Hi5?...
Espero ainda que um dia se leia na escola os comentários trocados entre o Xefe Djjioguinhuu e a JúLiÁnNáÁZóúÚúNaÁh no Hi5 em vez dos poemas de Fernando Pessoa. Verdadeiros artífices da linguagem e da gramática.
Que as ilustrações sejam os cartazes a informar que "À caracóis" ou que "Vêndesse melões". Que os partidos políticos sejam "krews". Bem, isso de certa maneira já são, visto que "krew" é um termo associado a um grupo de pessoas que, por vezes, executa actividades de legalidade duvidosa.
Bjx ffx a tdx. ***