terça-feira, 3 de novembro de 2009

A Nereida de Virgílio


Não, não é um post sobre a Nereida. Descansem. Não se trata disso, por muito que a virilidade seja um requisito obrigatório de um motorista, ficando somente atrás do camionista. Mas só porque as empresas de transportes públicos não permitem que penduremos calendários Pirelli e páginas centrais da FHM no vidro. O sindicato (claro que há um sindicato para os motoristas, como podia não haver?) já tentou explicar milhares de vezes que um vidro daquele tamanho serve para alguma coisa, mas eles parece que não entendem!

Mas, retomando a ideia inicial, claro que não vamos enveredar por caminhos duvidosos neste casto blogue. Aliás, não imaginam o trabalhão que deu encontrar uma fotografia da senhora envergando uma quantidade de tecido moralmente aceitável. E não, não é a mesma coisa. A Cláudia tem muito mais classe.

Agora que usei o adjectivo "casto", podia fazer mais uma inevitável divagação e escrever umas linhas conectando os trabalhos fotográficos da modelo e actriz francesa Laetitia Casta e a definição de "castidade" do dicionário (cito: "Abstinência total de pensamentos, palavras e obras sensuais."), mas vou abster-me, usando um verbo adequado, de o fazer. A verdade é que este post surge inspirado por um trocadilho absolutamente divinal. O mais magnífico que ouvi nos últimos tempos.

Um senhor responsável por um quiosque, querendo explicar que o livro que acompanhou a última edição do Expresso foi a Eneida, de Virgílio, afirmou convictamente que era não a Eneida, mas sim a Nereida que vinha com o dito jornal. Lembro-me de ter pensado duas coisas: 1) "Hmm... Desconhecia esta (pequena) mudança da linha editorial do Expresso." ; 2) "Você não disfarça nada as suas leituras, meu bom homem... E leituras é como quem diz, não é verdade?..."

É certo que a comicidade deste trocadilho resulta não só da tenra idade do dito senhor, do seu esbelto bigode, do ar sério e decidido com que fez a dita afirmação nem mesmo da ligação de uma namorada de Cristiano Ronaldo a uma obra épica de um íntegro e respeitável escritor do século I a.C.. Sim, é certo que a obra não foi mais do que propaganda encomendada pelo Imperador César Augusto, mas Virgílio não deixa de ser íntegro por isso. Era escrever ou ser atirado aos leões, por isso creio que fez uma boa opção. Ainda que nada altruísta. Toda a gente sabe que o povo gosta mais de ver leões deliciando-se com um bom petisco humano do que de ler um livro.

Mas, dizia eu, a comicidade resulta também do próprio nome: Nereida. Tem uma sonoridade... cómica, simplesmente. Funciona. É como "jacaré". São palavras que, se estivermos num stand-up e já não fizermos a mínima ideia do que dizer, fazem magia. E é um nome "divagável". Percebe-se que não é apenas um nome, como Letizia, por exemplo. Percebe-se que deve significar algo. E, pensando assim, antes de ir à Wikipedia, ninguém sabe bem o que será uma Nereida. Será que se pesca uma Nereida? Será que encontrar uma nota de 20 euros no chão é uma Nereida? Será que se vendem Nereidas na praça? Será que dá para fazer música com uma Nereida? Este nome, meus amigos, é plasticina pura! É de uma versatilidade imensa. A Nereida, meus caros, é o que um homem quiser. Desde que ele seja um futebolista de topo, claro.

Fui, então, à gloriosa Wikipedia e descobri que as Nereidas eram, na verdade, as ninfas filhas de Nereu e Dóris, na mitologia grega, e que ninguém sabe ao certo se eram 50 ou 100. É o que os advogados chamam de dúvida razoável. É compreensível que se dê uma margem de dúvida, afinal de contas estamos a falar de uma insignificante diferença de 50 ninfas. E, pasme-se!, elas surgem desnudadas na maioria das gravuras, por entre golfinhos e nenúfares (nenúfar - outra palavra infalível).

Essa maravilhosa biblioteca digital informa-nos ainda que Nereida é igualmente o nome de um satélite de Júpiter. Resolvi partilhar essa informação com o meu colega dos turnos da madrugada, o Zé Antunes. Ao que ele, ensonado, me resmungou bruscamente uma frase qualquer que me pareceu incluir algo como "os satélites da espanhola".

Beijos, abraços e Nereidas a todos.

2 comentários:

  1. Olá amigo sr motorista :)

    Tenho q cá vir com mais tempo comentar a nereidice do teu ultimo texto, mas para já passei só para te dizer que tens um miminho no Eterno Diadema ;)

    Muitos beijonhos

    Sofy

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