sábado, 12 de dezembro de 2009

Have yourself a merry little Christmas


Está a chegar mais um Natal. Já diria a tia Maria do Rosário, e com toda a sapiência: "O tempo passa a correr, parece que ainda foi ontem o Natal...".

Pois é. É a crua realidade. É Natal de novo e, como tal, é tempo de se dizer e fazer 90% do total de clichês existentes um pouco por todo o Mundo. Fazer e apelar aos gestos generosos, começar a prometer deixar de fumar na passagem de ano, ver como é que vai estar o tempo na Serra da Estrela, escrever posts natalícios no blogue... Ouvir músicas de Natal.

Na rádio e na televisão, começa a ouvir-se aquela percussão típica das músicas natalícias e cantos corais de músicas que toda a gente só se lembra mesmo nesta época. E lá se vai comprar um CD "Christmas Songs", provavelmente dos Il Divo, para pôr a tocar lá em casa. Foi neste espírito natalício que fui recordar alguns dos principais clássicos desta quadra festiva. Mas fiquei-me pelo YouTube. Digam que tenho um coração gelado, mas acho que chega bem para os meus propósitos. E o YouTube tem a vantagem adicional de se poder ouvir a música acompanhada de um videoclip. Vantagem que é empolada quando se trata de um videoclip como o de "Have Yourself a Merry Little Christmas", da intérprete Judy Garland.

A imagem já é sugestiva, mas claro que a mensagem fica muito mais clara no vídeo. Judy Garland não estava a brincar quando quis desejar-nos um pequeno Natal feliz. E haverá mais eficaz modo de transmitir essa mensagem de alegria e felicidade do que através deste vídeo? Através de um videoclip simplista, cuja história se desenrola (bem, na verdade não desenrola grande coisa porque não há história, a única e grande viragem do vídeo dá-se quando Judy Garland subtrai, lentamente, uma peça da sua indumentária - aquele lenço que se vê na imagem, bem entendido) num ambiente obscuro e em que a cantora se faz acompanhar por uma criança, estando ambas com um ar tremendamente enfadonho e tristonho. Admiro a criança. Não deve ter sido fácil fingir um ar tão grandemente triste como aquele. Pensando bem, eu cá acho que aquela criança sofreu. E sofreu psicologicamente. Não é possível fingir tamanha angústia sem haver jogos psicológicos da pior e mais cruel espécie metidos ao barulho.

E chegamos à parte em que o leitor julga que eu estou a gozar com uma aparente incoerência entre a mensagem da música e a mensagem do videoclip. Nada disso. Para mim, tudo bate certo. O que se passa é que a mensagem que Judy queria transmitir não era exactamente "have yourself a merry little Christmas". Era, sim, "have yourself a merry little Christmas, since I'm in the mud". Não compreendo porque é que não optou por este título, mais esclarecedor. Afinal de contas, um título que já leva 33 caracteres distribuídos por 6 palavras também leva 48 caracteres, 1 vírgula e 1 apóstrofo distribuídos por 12 palavras (eu conto I'm como I am)...

Aliás, os últimos dois versos da música são "Until then, we'll have to muddle through somehow/So have yourself a merry little Christmas now". Está tudo dito. Antes do grande final, do grande e memorável desejo de um pequeno Natal feliz aos seus ouvintes, Judy Garland aplica, não por obra do acaso, o verbo "muddle through". O seu significado é algo como deambular, aguentar de pé com alguma dificuldade. Mas certamente haveria outros sinónimos. Este é cirurgicamente escolhido por conter "mud". E, objectivamente, ela partilha uma atitude deambulatória, típica de quem está infeliz e perdido na vida.

Com isto, meus amigos, atinjo o zénite deste meu texto. Judy Garland estava na lama quando escreveu este clássico de Natal. Mas não perdeu o sentido altruísta e o espírito natalício e cantou votos de que o demais Mundo tivesse um pequeno Natal feliz... Já que ela não o iria ter. Mas, com a mania de darem títulos microscópicos às músicas, perdeu-se esta segunda parte da mensagem.

O Autocarro recupera-a e, por mais tardio que seja, dá o ombro à Judy para ela chorar.

O que era escusado era fazer o que quer que tenham feito (e algo fizeram, não tenho dúvidas disso...) àquela pobre criancinha. Afinal de contas... É Natal.

2 comentários:

  1. Nao recomendo meu caro socio que nesta epoca tão festiva oiças Il divo que já é um cliché, mas sim adoptes uma nova atitude e ouças os verdadeiros tenores portugueses - Apolo:P

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