terça-feira, 7 de julho de 2009

Tourada


Eu sei, a imagem já está mais que batida. Mas não pude resistir a colocá-la em poster no Autocarro, junto ao validador dos passes. Nem podia deixar de trazer à conversa sobre rodas que aqui temos este assunto dos chifres que Bernardino Soares possuirá, de acordo com o ex-ministro da Economia Manuel Pinho. Numa insinuação feita na Assembleia da República (doravante, AR, para simplificar). Não sei quanto a vós, mas eu cá sei que a AR é a Casa da Democracia Portuguesa. Por isso, se Pinho afirma algo tão convictamente, permitindo-se até ilustrar o dito com um extraordinário gesto de mímica, acho que devemos levar a sério. Afinal, é a AR... Certo?

Ok, vocês não caíram. De facto, o que Pinho fez foi ilustrar na perfeição o que, na verdade, é o Hemiciclo cá do sítio: uma tourada. Com chifres (doravante, cornos, para simplificar), tudo fica mais claro. Mariano Gago já nos presenteava com uma possante dentição, típica de equinos fortes e saudáveis, ideais para uma tourada a cavalo. O Primeiro-Ministro é uma cavalgadura. Mesmo não tendo tão notável dentição. A forma arrojada de falar de Jerónimo de Sousa remete-nos facilmente para a "voz off" que anuncia os toureiros e as ganadarias. Todos os deputados que intervêm fazem-no num corajoso (?) tom desafiante, típico dos toureiros. A Ministra da Educação... Bem, a Ministra da Educação é simplesmente um asno (por vezes, também se vêem asnos nas touradas - tanto quanto julgo saber, que não é muito). Mas os cornos dissipam todas as dúvidas: o Parlamento é uma tourada. Com algumas diferenças, salvo seja: o povo, aprovando ou não o teor do espectáculo, não acha piada; os animais não sofrem (e ainda se divertem por cima, recebem bem e podem faltar ao trabalho) nem se vislumbra risco de extinção da espécie (raios!); os saloios são os protagonistas, e não o público; os activistas que tentam proteger a espécie resumem-se à própria espécie.

Confesso que, à primeira vista, na minha inocência, não discerni se o gesto de Manuel Pinho era uma referência a cornos ou orelhas de burro. Mas todos se apressaram a esclarecer que foram mesmo cornos, geralmente usados em insinuações provocatórias acerca de infidelidade marital. Achava a minha outra hipótese perfeitamente credível, mas de facto chamar outro deputado burro é vulgar demais. Este homem tinha de inovar. Afinal, era o ministro da Inovação.

No dia seguinte, Joe Berardo fez o melhor que sabe fazer: ser solidário, oferecendo emprego a um homem que todos crucificavam. Não, não, desculpem. O que Berardo melhor sabe fazer é mesmo aproveitar para ser protagonista. Oferecendo emprego a Pinho logo após a sua demissão do Governo... e fazendo questão de torná-lo público. E fê-lo de um modo muito sui generis, como é, aliás, seu apanágio. Não consigo citá-lo word-by-word, mas o madeirense terá dito algo como:

"Liguei-lhe a oferecer-lhe emprego, mas ele esteve incontactável. Por isso, falei com a mulher dele e pedi-lhe que transmitisse a minha oferta ao Manuel Pinho."

Bem, o que eu vejo aqui é um genial humor negro por parte de Berardo. Não quero especular, mas só interpreto esta menção de Berardo à mulher de Pinho e ao facto de ter contactado com ela, deixando subentendido que tem alguma confiança com ela (de outro modo, creio que preferiria ter transmitido pessoalmente ao visado algo tão importante como uma oferta de emprego... digo eu), como humor negro perante o gesto do ex-ministro, apelidando Bernardino Soares de "cornudo", com o significado que todos sabemos... Por que outro motivo ele teria especificado estes detalhes acerca de como fez chegar a sua oferta ao conhecimento de Pinho? Berardo com um requinte de humor magnífico.

Termino remetendo os amáveis passageiros para a letra da música de Fernando Tordo, uma das mais marcantes da história da música portuguesa, homónima ao título deste texto. Aqui a têm, a Tourada (clicar para seguir a ligação).

Não resisto ainda a partilhar uma gaffe matemática de Fátima Campos Ferreira, num programa que a RTP transmitiu ontem sobre a governação do elenco Sócrates. Devo ressalvar que não pretendo denegrir a imagem da dita senhora, que é inteligentíssima, caso contrário não seria habitual moderadora deste tipo de debates. Pretendo, sim, mostrar como, até numa pessoa tão inteligente, o raciocínio matemático por vezes falha em coisas muito simples, permitindo que os políticos nos ludibriem com a estatística, que, nas mãos certas (ou erradas, dependendo da perspectiva), é autêntica plasticina. Bem, na verdade, o que pretendo é partilhar um momento caricato, a que nunca pensei assistir: Nuno Morais Sarmento a fazer alguém, em particular sendo esse alguém Fátima Campos Ferreira, parecer ignorante. Confesso que fiquei fascinado com tamanho insólito. Passo a citar o diálogo:

Fátima Campos Ferreira: "Mas calma aí... O senhor [Morais Sarmento] diz que a taxa de analfabetismo desceu 50% no governo PSD de que o senhor fez parte, mas o valor cifrava-se em 47%... Como é possível ter descido 50%?"

Nuno Morais Sarmento: "Obviamente, desceu de 47% para 23,5%..."

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