sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Como enriquecer o currículo numas férias no Brasil


Conforme descrito nesta ligação que bondosamente vos disponibilizo - ignorem a qualidade do jornal, estranhamente foi o único onde encontrei, em suporte digital transferível para este nosso espaço, esta notícia que ouvi originalmente na RTP, que, creio, já goza de credibilidade suficiente enquanto veiculadora de informação -, duas advogadas inglesas em início de carreira forjaram um assalto a elas próprias em território brasileiro, com o objectivo de receber o dinheiro de um seguro que haviam feito. Foram apanhadas, após o inspector da polícia do Rio de Janeiro ter desconfiado da história das duas. Sem querer pôr em causa a perspicácia do referido inspector, ocorre-me dizer que as duas não devem ter sido nada... talentosas ao contar-lhe a história da carochinha. Tentaram ser ardilosas e mentir - e fizeram-no mal feito. Quanto a isso, eu não sei como são as coisas lá em Inglaterra, mas se for como cá em Portugal, em que cada faculdade abre 500 vagas para o curso de Direito, creio que está tudo explicado.

Está explicado porque é que este genial e engenhoso plano foi por água abaixo na fase que exigia mais astúcia e está explicado também, desde logo, porque é que elas o decidiram fazer. De facto, se em Inglaterra abrem tantas vagas como em Portugal, com certeza que os jovens recém-licenciados fazem de tudo para fugir ao desemprego. Todo este estratagema não passou de uma tentativa de enriquecer o currículo, de forma a conseguir entrar para uma boa firma de advogados. Há que ter complacência para com as jovens, elas não tentaram fazer uma trafulhice, simplesmente queriam enriquecer o seu CV, para impressionar potenciais empregadores, firmas que têm 10 nomes próprios ou apelidos intercalados por vírgulas e "&"'s. Como a firma Gonçalves, Freitas, Marques, Paulo, Bemposto, Barbosa, Rafael, Gentil, Alvitez & Soares. Claro que as jovens inglesas não pensariam nesta firma, mas sim numa Wellesley, Troy, Tony, Robertson, Freedsman, Carlton, Querrey, Paul, Marks & Spencer. Por exemplo.

Ocasionalmente, para simplificar, as firmas de advogados usam as iniciais dos membros que lhes dão o nome. É o exemplo da António, Lourenço, Dâmaso, Rodrigues, Abílio, Barroso, Aparecido & Ramalde. A A.L.D.R.A.B.A.R..

Mas regressando às jovens inglesas, aldrabar é como que um estágio pós-licenciatura. Afinal de contas, as saídas profissionais mais populares do curso de Direito são a advocacia e a política.

E já que falamos em política, devo incentivar o Ministério do Ensino Superior (MCTES) a estar atento a estes casos. Acho que talentos como o destas duas inglesas são de aproveitar, no âmbito de dois programas emblemáticos do Governo. As Novas Oportunidades e o acolhimento de prisioneiros de outros países (para quem não leu a notícia, as ditas cujas foram detidas pela polícia). Claro que o Rio de Janeiro não é como Guantanamo. Regra geral, é bastante pior. Mas temos aqui dois talentos que encaixam nos perfis da sociedade inclusiva, nos moldes em que tem sido preconizada. Prisioneiros a frequentar estabelecimentos do Ensino Superior já existem, com a devida parafernália policial a acompanhá-los para as salas de aula. Se esses prisioneiros forem de outros países, melhor ainda! Uma oportunidade assim não é de desprezar, caro MCTES. Até porque estas duas, chegando a Inglaterra com este falhanço na bagagem, vão ter dificuldades. É certo que foi uma boa iniciativa, visando a aquisição de experiência importante para o futuro desempenho da profissão, mas infelizmente falharam e o que parecia ser uma grande ideia acabou por se tornar numa mancha no currículo. Os ingleses são uns indivíduos todos impecáveis, acho que não apreciam muito manchas e essas coisas... Mas acho que estas senhoras mostraram empreendedorismo e espírito de iniciativa. Mais um motivo para o MCTES gostar delas. E neste aspecto contam ainda com o apoio adicional do Ministério da Economia.

E não esqueçamos o profissionalismo levado ao extremo que toda esta atitude pode ter representado. Elas queriam ser presas para sentir o que sentem os arguidos detidos preventivamente e compreender melhor o que lá passam. Isso torná-las-á mais aguerridas na luta em tribunal pela liberdade dos arguidos que forem seus clientes. Realmente, bem vistas as coisas, só uma mente muito básica poderia ficar-se pela simplicidade de raciocínio que é gozar com a situação de advogadas passarem uns dias a ver o Sol aos quadradinhos. Achar isto um cómico de situação ironicamente paradoxal só pode ser obra de um QI ridículo. (esta frase ficou com um ar tão erudito que ninguém vai notar no gritante pleonasmo redundante que é dizer "um cómico de situação paradoxal"... E com o "pleonasmo redundante" já lá vão dois pleonasmos redundantes.)

Esperem por elas no julgamento do caso Maddie!... Quem quer que sejam acusador(es) e arguido(s)... Até porque, quando se der esse julgamento, estas pequenas raposas já terão 50 anos ou mais, tendo já por essa altura granjeado experiência e feitos suficientes para apagar este falhanço típico de um início de carreira. Só é pena já terem entrado na reforma quando se julgar o caso Casa Pia, também podiam dar jeito lá.

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