quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Leis do mercado


"Quem não o conhecer, que o compre!" - curto e grosso, foi assim que Paulo Portas se pronunciou sobre o Primeiro-Ministro perante as interpelações dos jornalistas. Mal! Errado! Paulo Portas a pôr em causa o bem-estar dos portugueses, ao exclamar esta frase, comprometendo a sua popularidade, visando as eleições que aí vêm.

Vamos por partes: eu assumo que quem não conhece José Sócrates ou é estrangeiro ou é eremita. À partida, os portugueses que não vivem numa caverna tendo como única companhia besouros que se alojam na sua barba conhecem-no, o que, automaticamente, é sinónimo de não dar dinheiro nenhum por ele. Acontece que os eremitas também não têm poder de compra, por isso não podiam ser aldrabados ao ponto de comprar o Primeiro-Ministro. Ao escrever eremitas, ocorreu-me também incluir os trogloditas (até porque as palavras rimam, mas essencialmente porque é uma palavra infalivelmente cómica) no grupo de desconhecedores de Sócrates, mas seria um erro da minha parte fazê-lo. De facto, os trogloditas são hoje um grupo altamente organizado, em sindicatos e outras aglomerações, partilhando umas jantaradas algumas vezes ao ano. Pelo que se conhecem todos entre si.

Eliminados os trogloditas, ficamos mesmo só pelos eremitas e os estrangeiros. Já vimos que Paulo Portas, ao sugerir que compre o secretário-geral do PS quem não o conhecer, também não conta com os eremitas no lado da procura. E os estrangeiros... Bem, depois da história do tratado de Lisboa, já há meia dúzia deles que conhecem o nosso Primeiro, e a palavra vai passando. Há sempre alguém que cai no conto do vigário, mas dificilmente alguém vai comprar o PM. Um erro de avaliação de Paulo Portas. Analisando a mercadoria e a respectiva procura, claramente o preço de equilíbrio não pode ser positivo. Um indivíduo assim só oferecido, e até aceitamos pagar para o levarem. De facto, o que Paulo Portas deveria ter dito é: "quem não o conhecer, que o venha buscar que é de borla... E ainda pagamos a gasolina ou os custos com os transportes.". Claro que é uma frase bem menos incisiva do que "quem não o conhecer, que o compre!", mas seria certamente bem menos repulsiva para a procura.

Compreende-se, no entanto, este erro de avaliação de Paulo Portas. A sua experiência nas feiras e mercados leva-o a crer que tudo tem que ser pago porque o comerciante mantém o seu negócio no limiar de rentabilidade e tem-no para sustentar a sua família. Pode haver fiado, para os amigos, mas no fim é tudo para se pagar. Assim ditam as milenares leis do mercado (o da rua, não o conceito económico), eternizadas como "As Leis do Bolhão" ou mesmo "Constituição do Alho Francês". O freguês tem que pagar, nem que a fruta vá podre. Foi assim que Paulo Portas, levado pela sua vasta experiência, raciocinou. Os portugueses vêem-se à rasca para ganhar o seu, por isso há que levar o regateio ao impossível: tentar receber dinheiro, até para que alguém leve os políticos.

Esta é uma tarefa para a D. Alzira, que até consegue vender espantalhos a uma família de corvos. Ok, está se calhar não foi tão impressionante. Mas que tal esta? A D. Alzira até é capaz de vender brócolos! Convencidos, agora?

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