terça-feira, 18 de agosto de 2009
Is the fly bugging you?
Já alguma vez vos aconteceu estar num perfeito estado de relaxamento, numa sala quieta, com a televisão baixinha ou música ambiente, teclando com os amigos no Messenger, escrevendo no blogue, lendo um livro ou fazendo uma outra actividade tranquila, ou quem sabe mesmo a tentar dormir no quarto, escuro e silencioso, no maior dos sossegos, quando, de repente, ouvem um zumbido?
E já vos aconteceu esse zumbido provir mesmo de um insecto, vivo e voador, mosca ou melga, e não apenas do relógio despertador mal programado cujo toque é o famoso "besouro"? Mais: já vos aconteceu esse insecto, além de vivo e voador, não ser uma melga nem uma simples mosca, mas sim a PORRA de uma amêndoa da Páscoa com asas?
Por último: já vos aconteceu tudo isso e não ter um mata-moscas nem um repelente, a ponto de ter de improvisar com os chinelos, os jornais, o gato ou qualquer coisa que esteja à mão (esta é a parte em que digo que não sou eu na imagem, mas sim um maduro qualquer que encontrei no Google) e sirva para exterminar o bicho sem sujar as mãos de quitina viscosa, e pôr fim ao maldito zumbido e aos voos rasantes que fazem impressão nos ouvidos? Sem esquecer que estes métodos improvisados são bem menos eficazes, o que obriga frequentemente a várias tentativas, ainda para mais quando a mosca, além de não ser uma mosca, mas sim a porra de uma amêndoa da Páscoa com asas, parece o sacana do Robocop! Ou, mais rijo ainda, o Chuck Norris.
Pois. Toca a todos, não é? Boas recordações guardamos das figuras feitas na noite alta de Verão, tão quente que nos obrigou a abrir as janelas, de chinelo na mão, provavelmente de pijama, empoleirados numa cadeira, com concentração e discrição dignas de uma emboscada militar, olhar fixo no inimigo, buscando surpreendê-lo com um ataque mortífero na hora certa. E ele a conseguir fugir até estar demasiado atordoado para resistir mais. Ou até encontrar o raio do caminho de volta para a janela. Entram sempre com aquela ligeireza toda e depois não saem nem por nada, raios as partam!
Ontem à noite foi a minha vez. E, especialmente para mim, não bastava enviar o moscardo Robocop. Tinham de enviar o protótipo 3.0, que inclui também a invisibilidade do "Hollow Man". "Hollow Fly", neste caso. É verdade. Não só este invasor da minha paz era grande, barulhento e resistente, como ainda tinha a capacidade extraordinária de desaparecer quando eu o abalroava. Ficava sem saber se tinha conseguido ou não. Deixava de o ouvir, não o via a voar, não o via estendido no chão... Desaparecia! Logo da primeira vez, acertei-lhe em cheio. Fiquei estupefacto por não encontrar a mosca diabólica em lado algum. Orgulhoso, julguei tê-la desfeito em pedaços tão pequenos que não se conseguiam discernir. Claro que não era bem assim. Estava ainda de peito feito quando voltei a ouvir aquele zumbido dos infernos. O tal espírito Chuck Norris da mosca veio ao de cima. Atacou-me sem pedir licença. Sobrevoou a minha cabeça, mas já estava atordoada e nem resistiu aos meus... gestos impetuosos. Por outras palavras, dancei para ali como se tivesse um macaco do circo (daqueles com chapéu) agarrado às minhas costas ou dentro das calças.
Em breve, depois de uma intensa luta aérea, o que teria não dentro das calças, mas sim em cima dos calções de andar por casa, era o atrevido insecto. Claramente, não estava sóbrio, tentei de novo afastá-lo sem obter reacção da parte dele. E eu... Bem, eu estava numa posição algo... desconfortável. O ilustre visitante achou por bem pousar em cima dos meus calções mesmo na zona onde não me convinha nada, para meu bem e da continuidade da minha árvore genealógica, dar-lhe uma valente marretada com a arma de que me muni para aquela ocasião. No caso, foi uma revista. Com muitas páginas, convém dizer. Não era lá muito leve. Além disso, eu estava sentado, tinha uma mesa e a respectiva toalha na minha frente, o que dificultava afugentar o bicho. Percebi que não podia atirar a matar. Mas tinha que ferir o inimigo um pouco mais, e deixá-lo em posição favorável para o abater. Resolvi, então, dar uma suave vassourada nos calções, com a revista. Fui capaz de a varrer para debaixo da mesa. Movi-me de modo a desferir o ataque final. E eis que constatei, embasbacado, que a mosca não estava debaixo da mesa. E, uma vez mais, não ouvi um som naqueles instantes, não sei como voou em fuga.
Disseram-me, em tom irónico, que as moscas eram como os gatos, que tinham sete vidas. A verdade é que tentei mais quatro vezes. Sempre a técnica da emboscada, que todos conhecemos tão bem. Aproximei-me sorrateiramente, até tentei uma abordagem pela retaguarda... Mas nada surtiu efeito. Era claro agora, estava perante um mutante, aperfeiçoado com genes do Chuck Norris e do Steven Seagal e ainda com porcas e parafusos do Robocop, mais a mistela do "Hollow Man" para desaparecer. E mesmo assim, ainda teve treino de um general durão dos Marines para a camuflagem. E mais, esse general durão dos Marines já foi o resultado de um cruzamento entre um paparazzo e um camaleão. Obviamente, herdou a masculinidade do camaleão.
Esperava ansiosamente pela sétima abordagem, que esperava ser a fatídica. Ouvia agora sons, mas não tinha contacto visual. Os sons sucediam-se... Sucediam-se... Até que o som se alterou. De um "zzzz" para um "ffzzzz" progressivamente menos audível. Faltava uma coisa à amêndoa de Páscoa com asas: ser torrada. Infelizmente, não arrecadei a glória da vitória perante este aguerrido oponente. Mas, quando tudo o resto falha... Confiamos na janela aberta ou nas lâmpadas a ferver.
P.S.: Perdoem-me, mas tenho de me vangloriar pelo trocadilho com a palavra "bug" no título. Honestamente, acho que me saí bem.
P.S. 2: A minha ambição é que, um dia, se faça circular um mail intitulado "A caça da mosca, belamente descrita no Autocarro Copa D". É um sonho que acalento desde que recebi "O amor, belamente descrito por Tom Jobim".
P.S. 3: O Autocarro, depois de uma fase mais crítica e satírica, voltou a uma história mais levezinha, de situações do dia-a-dia. Como, de resto, os motoristas preferem contar.
P.S. 4: Bom resto de férias aos leitores deste pequeno pergaminho digital.
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